Desculpem o trocadilho infame, mas a vida é feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possíveis...

quarta-feira

Nada!

Essa vida viu, Zé. Pode ser boa que é uma coisa. Já chorei muito, já doeu muito esse coração. Mas agora tô, ó, tá vendo? De pedra. Uma tora. Um macho.
Na quarta eu não vi o senhor, mas será que o senhor me viu chegando cedinho, com o dia amanhecendo? Balada, Zé. E da boa. Sabe quem tava lá? Esse mesmo. Ele que veio me trazer, o senhor não viu? Ah, o senhor viu? Que vergonha. Eu tava meio caindo pelas beiradas não era? Era sono. Tá, um pouco disso e um pouco daquilo também, mas basicamente sono. O senhor não viu ele indo embora? Então somos dois. Mas vou confessar pro senhor: adoro quando eles vão embora sem me dar nenhum trabalho.

Se eu cobro? Que é isso, seu Zé! Tá louco? Sou menino de família! Trabalhador, estudante e a espera de um grande amor. Mas to me divertindo, ué. Não é isso que mandam a gente fazer? Quando a gente chora e escreve aquele monte de poesia profunda. Quando a gente se apaixona e tudo mais e enche o saco dos amigos com aquela melação toda. Não fica todo mundo dizendo pra gente parar de tanto drama e se divertir? Poxa, to só obedecendo todo mundo.
Não é isso que todo mundo acha super divertido? Beber e fumar, e beber, e fazer sexo sem amor, e beber e fumar e dançar e chegar tarde e envelhecer e não sentir nada?
Sabe Zé, no começo doeu não sentir nada. Mas eu consegui. Eu não sinto nada. Nada. Uns vem, uns vão. As garrafas tão lá, ao lado do lixo. As cinzas saem dançando por aí. As minhas vão junto. No dia seguinte eu acordo, tomo um banho, passo protetor solar, sento na minha varanda com o meu jornalzinho e ó: nada.

Nadinha. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa.
Mas hoje é quinta, hoje tem visita. Hoje tem risada alta, tem festinha, tem maquiagem e música. O senhor promete que não me julga, Zé? Eu sei que você se atrapalha, liga aqui pra cima e fica até mudo.

São tantos nomes, não é? Mas é só fazer que nem eu: chama todo mundo de “o outro”. Todos são outros. Porque o de verdade, Zé, o de verdade não existe. A gente chora, escreve lá umas poesias profundas, chora, mas um dia a gente acorda e descobre que esse aí não existe não.
Amanhã é sexta, um novo dia. Um novo outro qualquer. Eu queria te dizer que eu sinto muito, Zé.
Mas eu não posso te dizer isso porque a verdade é que eu não sinto mais nada. Nadinha, Zé.

sexta-feira

Espartanos - O livro!

A vida daqueles meninos os condicionaria a se tornarem guerreiros de Esparta: Alceu, Iolau, Heleno e Clício deixam suas posições de crianças para traçarem sua trajetória rumo à glória de servir sua cidade, em seus ínfimos sete anos de idade.

A realidade em que são expostos é agressiva, é intimidadora e implacável. Apenas os fortes sobrevivem para que haja “liberdade para os gregos!” e, cada um, a sua maneira, mostra sua força para driblar os perigos que aparecem – tanto perigos para sua imagem como cidadão de Esparta, quanto perigos que colocam suas próprias vidas em risco.
Ao passar dos anos, e com seus desenvolvimentos pessoais construindo suas posições sociais na realidade em que vivem, os meninos se tornam adolescentes e, após, homens. Novas personagens vão se inserindo na vida dos protagonistas e criam novas estruturas para situação que explode ao redor, a guerra entre Esparta e Atenas.
Escrito com fluidez, o romance é uma verdadeira arca de informações históricas. Arca essa, aberta em cada trejeito de fala das personagens e na facilidade com que o narrador coloca o leitor imerso na realidade que está propondo. A carga informativa da obra não impede que o leitor, já impregnado pela verdade descrita, se emocione e se surpreenda a cada novo fato narrado.
Transitando entre as diferentes visões dos jovens guerreiros, a narrativa problematizará diferentes valores sociais da Antiguidade Clássica com a visão de mundo contemporânea do leitor, debatendo assuntos que vão desde as possíveis políticas que existiam, relações familiares, amor, até as vestimentas, tudo dentro de uma descrição minuciosa e embebedada pelo homoerotismo.
A obra entretém, além de informar, e pode ser usada como ponto de partida para discussões mais amplas que ultrapassam a época em que há o desenrolar da história. É uma trama que avança além do que se propõe, uma resposta artística a História de ontem e hoje.

Gabriel Bruno Martins

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Vale a pena ler...

Não mandei gostar...

Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar até as duas e dezoito. Cansei de gente que gosta como pensa que é certo gostar. Gostar é essa besta desenfreada mesmo. E não tem pensar. E arrepia o corpo inteiro, mas você não sabe se é defesa para recuar ou atacar. Eu eu gosto de você porque gostar não faz sentido.

Permita-se. Se você acha que no fundo mesmo, apesar de todas essas reuniões e palavras em inglês que só querem dizer que você não sabe o que está falando, o que importa é ter pra quem mostrar que saiu o arco-íris. Permita-se. Porque eu não quero que você tenha essa pressa ao ponto de ajudar com as próprias mãos. Eu quero que você sinta esse prazer que chega aos poucos. E mata tudo que há em volta. E explode os relógios. E chega aos poucos ainda que você ainda não saiba nem quem é pouco e nem quem é lento. Porque você morre. Se você prefere a vida quando se morre um pouco por alguém. permita-se.
Eu não faço a menor idéia de como esperar você me querer. porque se eu esperar, talvez eu não te queira mais.

Eu não queri ir embora e esperar o dia seguinte. porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. E me diz que sempre tem outro dia. E me diz que eu não posso esperar nada de ninguém. E me diz que eu preciso de uma camisa de força. Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo. se você puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se você puder esquecer a camisa de força e me enrroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum aquilibrio. Se você puder ser alguém de quem se espera algo, afinal, é uma grande mentira viver sozinho, permita-se. Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.