Desculpem o trocadilho infame, mas a vida é feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possíveis...

segunda-feira

Entre o porto seguro e o além-mar

Todo coração de balança entre a certeza e a insegurança
Claro que eu sou sério, claro que você pode confiar em mim, claro. Claro que eu sei o que eu estou dizendo, pensando e planejando. Claro que é pra valer e que eu não tenho dúvidas. Claro que só digo a verdade.

Escuro total, eu deitado sem o menor sono. Respiro fundo com a cara enfiada no travesseiro tentando encontrar um resto de sua presença. Por alguns segundos penso em ficar assim: com a cara enfiada sem encarar a vida e sem respirar por muito tempo. Nada é claro e esperar o dia amanhecer não vai adiantar.
Meu marido, como gosto de imaginá-lo, tem os ombros largos de proteção e abraço eterno. Tem uma mão grande que serve para tudo: desde atravessar a rua segura até sentir prazer sem medo das horas.
O marido de outra, como não gosto de imaginá-lo, não poderia nem estar nessas linhas, até em pensamento ele é problema. Das suas mãos só lembro de esmagá-las com muita força por raiva da vida, medo da fugacidade e pra provar que não era sonho. Dos seus ombros eu só lembro dos seus olhares sobre eles, dos seus olhares eu sempre lembro.
Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos. Exatamente com aquela ironia pura estampada na cara: um misto de esperteza com falsa esperteza. Quando ele acorda e eu acordo, e nos olhamos, é sempre uma promessa de que a vida não vai acabar porque sempre acordaremos juntos. E para sempre vamos nos amar mesmo com o desgaste das olheiras e remelas. Respiro aliviado e mesmo distante de Deus eu sinto que ele abençoa tudo aquilo.

Quando o outro sorri distante, do outro lado do telefone, seu sorriso separado há meses do meu existe apenas em saudade e imaginação. Eu sinto um pesar de morte sobre os olhos e sempre escapa uma lágrima tentando acalmar a secura do peito. Sinto covardia lúcida ao olhar minhas pernas que não correm mais ao seu encontro. Nunca viveremos o desgaste e para sempre viveremos com a falsa impressão da perfeição.
E assim sigo sentindo, exatamente como me senti em cima de uma jangada, no mar. Eu e um pedaço velho de madeira seguíamos fracos e inseguros para o além- mar e meu coração disparava de tesão, medo, excitação e pânico. Profundo e assustador nas profundidades e superficialmente claro e encantador: o mar e os olhos dele não eram para mim, eram avalanche e não eram seguros. Acalmada a euforia lembrei que eu não sabia nadar e implorei para voltarmos.
Feliz e firme do meu porto seguro, não deixo de admirar aquela vida azul. Me perder por ali alguns segundos, cambalear o corpo em ondas de pensamento. Sabendo que depois do horizonte ainda tem mais belezas e já sentindo a dor de nunca descobri-las. Matando a saudade com o barulho de uma conchinha, bem escondida pra ninguém descobrir que ainda sonho. Se possível às vezes viajar, dormir quieto ao seu som, gelar a espinha ao seu toque e desequilibrar a alma. Não sou inteiro sem meu pouco sonho, azul e água. Amar o mar é tão humano que não pode ser traição.

Primeiras-primeiras coisas:

Lembro das primeiras-primeiras coisas que eu ganhei… O primeiro boneco articulado, o primeiro carrinho de coleção, o primeiro tênis de marca, aquelas primeiras-primeiras coisas que a gente sempre carrega na cabeça desde de pequeno, sabe?
Quebrei alguns dos presentes desde então. Não de propósito, mas de brincar mesmo. Ficar triste a gente fica por vários motivos enquanto passa o dia, como também sorri. Dá pra ficar ainda mais triste quando se magoa alguém sem querer. Não de propósito, mas de brincar mesmo. E pior ainda quando se quebra algo que lhe foi dado por quem teve o suor e a decisão de te dar aquilo que você se descuidou um segundo, mesmo que seja por brincar mesmo.
Nunca tive um óculos que eu gostasse de usar. É o meu primeiro, e agora tá ali, arranhado. Mas é o primeiro, se existe algo de bom e inesquecível pra gente são as primeiras-primeiras coisas. As primeiras-primeiras tem um gostinho de insubstituíveis.
Claro que vieram mais bonecos e mais carrinhos e mais tênis, vários outros, mas sempre que se olha pro começo das coisas e se lembra deles, é o gostinho de insubstituíveis que fala mais alto.
Fique triste, chateado, aborrecido, arranhou sim, quebrou, não tem concerto. Acontece, mas experiências vividas valem mais, formam o caráter e a vontade de não deixar ir a lembrança das primeiras-primeiras coisas irem embora.
Se for pra culpar alguém, culpe a gravidade, que nunca foi amiga de ninguém, não vá se culpar por viver e acidentalmente viver um pouquinho torto numa hora ou outra. Agradeça que você teve, fez parte de você e culpe a gravidade. Mas permita-se ficar triste, sim, porque isso também é viver. Já disse pra culpar a gravidade?

terça-feira

1 ano depois...

A gente quase completou um ano de namoro, quase.
Faltou um mês ou um pouquinho mais, não lembro.
Mas hoje, sem mais nem menos, completamos um ano de separação.
Ano passado essa hora, exatamente a essa hora, eu lembro bem.
Eu estava num show do que você não quis ir comigo e me ocupava em perguntar, de dez em dez segundos, e de dez em dez pessoas, quando é que você iria me ligar e dizer que tinha pensado melhor.
Quando? Você nunca ligou, nunquinha.
E eu esperei, esperei, esperei tanto tempo, nossa, como eu esperei.
Acho que eu nunca esperei tanto nada em toda a minha vida.
Outro dia me perguntaram o que você tinha me ensinado.
A gente estava conversando sobre os legados que as pessoas deixam em nossas vidas e quiseram saber qual tinha sido o seu.
O coiso me ensinou a gostar de MPB e cinema europeu, o outro coiso me ensinou a gostar de sexo e restaurante caro.
Teve o coisinho que me ensinou a ser engraçado e jogar frescobol. E você?
Que raios me ensinou?
Fiquei sem saber na hora, fiquei sem saber o que responder.
Mas hoje, no nosso aniversário de um ano separados, posso dizer que foi você quem me ensinou a lição mais importante da minha vida: você me ensinou a sofrer.
Eu nunca, nunca, em vinte e seis anos de vida, tinha sofrido.
Nunca. Claro, eu odiava ver meus pais quebrando o pau quando era criança, mas eu lembro que eu, pequenininha, pensava: um dia um príncipe vai me levar para longe dessa casa com gente louca que fuma demais, berra demais, desmaia e chuta vasos. Eu sofri também na escola, quando para alguém me enxergar eu tinha de promover bizarrices. Mas eu era muito novo para me separar das bizarrices e acabava também chamando a minha atenção: será que eu sou bizarro?Depois, em casa, quando eu dobrava direitinho o uniforme para o dia seguinte e me sentia um papel de parede bege que ninguém entende pra que serve, eu pensava: um dia um príncipe vai me levar pra longe dessa falta de vida, dessa falta de beleza, dessa falta de compreensão, dessa falta de cor, dessa falta de sei lá o que porque eu era novinho demais pra saber o que faltava.
Esperar o raio do príncipe sempre disfarçou minha dor, sempre me refugiou dela. Mas quando você, no dia 23 de outubro de 2011, me mandou seguir meu caminho sozinho, fiquei sem saber como fugir da dor.

Você era meu príncipe.
Depois de tantos amores estranhos, pequenos, errados e tortos, finalmente eu tinha reconhecido no seu olhar centralizado e no seu sorriso espalhado, o meu príncipe. E o meu príncipe estava me dando o fora. Que porra eu ia esperar da vida agora? Quem iria me levar para longe se você não me queria mais por perto? Não teve como. Foi a primeira vez na vida que não consegui me enrolar e acabei deixando a dor vencer. Pela primeira vez a realidade falou mais alto que a fantasia. Pela primeira vez a realidade da sua ausência falou mais alto que a fantasia de anos a sua espera. Sofri pra caralho, como diz por aí quem sofre pra caralho.
Mais do que livros cabeças, músicas bacanas, frases inteligentes, lugares descolados ou posições sexuais, você me ensinou o que realmente importa aprender nessa vida: que a vida pode ser uma grande, imensa e gigantesca merda.
É, ela pode ser. E que não existe porra de príncipe porra nenhuma. Que nem ninguém e nem nada pode te levar para longe de nada. É isso e pronto. E é assim pra todo mundo. E pronto. Qual o drama? A dor infinita dos dias infinitos que vieram depois do dia em que você se foi pra sempre veio misturada com toda a dor que eu não senti em todos esses anos. A dor do seu pé na bunda trouxe vasos jogados, bitucas eternas de cigarros em longas discussões pesadas, tardes perdidas em odiar o mundo, cabeças viradas, corredores frios, papéis de parede beges e grupinhos festivos e fechados. A nossa dor acabou sendo toda a dor que fazia fila em mim para ser sentido. E já que a porta pra realidade estava aberta, por que não sofrer também pelas criancinhas carentes, os países em guerra, a estupidez humana e a dor das juntas da minha mãe? Por que não sofrer pela condição das favelas, das prisões e da Terra? Por que não temer o aquecimento global, o ácido dos limpadores de vidro e as frases do Clodovil? A dor da sua partida trouxe toda a dor do mundo. De uma só vez. Mas agora já passa da meia noite. Não é mais nosso aniversário de fim e, pra te falar a verdade, eu já não sofro mais o nosso fim faz tempo. E pra te falar ainda mais a verdade, eu acho mesmo que você foi o príncipe que eu esperei a vida inteira. Você chegou e me levou embora. Levou embora a menino que tinha medo de sentir a vida e esperava uma salvação para tudo. Quem sobrou é esse desconhecido que se conhece muito bem em suas bizarrices, lê jornais todos os dias, substituiu o bege pela cor do verão, tem uns pais gente boa ainda que malucos, adora os poucos e estranhos amigos, não espera mais pelo cavalo branco mas fica ansioso pelo início da novela e talvez esteja pronto para amar de verdade. Amar um homem e não um príncipe.

domingo

O teatro do moço banal



Olho da minha casa e vejo você chegando. Corro para o enorme espelho do meu quarto e repito em mantra: eu não gosto dele, eu não gosto dele, eu não gosto dele.




Tenho quase 30 anos e consegui estragar todos os meus relacionamentos simplesmente porque gostei demais das pessoas. Dessa vez quero acertar, por isso combinei comigo que, apesar de estar morrendo por você, não gosto de você. Espero você tocar a campainha olhando o escuro pelo olho mágico. Meu coração dispara, mas eu mando ele parar. Estraguei todos os meus relacionamentos de tanto que meu coração dispara. Dessa vez quero acertar, dessa vez quero que alguém fique comigo ao menos um mês sem me achar louco. Cansei de sempre ser o garoto louco que espanta todo mundo.

Você tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro. Mas apenas te dou um beijinho no rosto. Preciso me comportar. Ser como as minhas amigas que se dão bem e arrumam namorados apaixonados. Há anos que eu rasgo os rapazes, enlouqueço, me apaixono, devoro. E termino sozinho, querendo morrer enquanto olho sem fome para o pacotinho com dez minipães de queijo.

Chega. Dessa vez vou acertar. Não vou chorar na sua frente porque acho um absurdo estar vivo, não vou pirar porque deu quatro da manhã e eu tenho a impressão de que a noite é uma coisa de pirar a cabeça. Não vou beijar sua nuca no meio da noite e gostar de você como naquela canção do Legião, que diz que é como se não houvesse amanhã. Eu gosto das pessoas pelo prazer de gostar e não porque deu tempo de gostar delas. E ninguém entende nada. E todo mundo se assusta. Mas prometo ser um homem normal dessa vez.

Você não sabe porque eu não te atendi o dia todo. Eu te conto que é porque estava muito ocupado. Minhas amigas sempre usam essa desculpa e sempre namoram. Eu era o louco que nem esperava os caras ligarem e já ligava pra eles.

Mas dessa vez tô ignorando o telefone. Mesmo que ele fique no meio das minhas pernas o dia todo esperando um telefonema seu. Mas você jamais vai sabe disso.

E jamais vai saber mesmo, sabe por quê? Porque você é o primeiro homem do mundo que não sabe que eu escrevo sobre a minha vida. Chega. Todos os homens morrem de medo disso e eu não aguento mais essa porra dessa solidão que me dá toda vez que procuro um pouco de amor nos beijos e abraços curtos que alguém me dá só pra poder transar depois. Chega.




Aí você fala que vai cortar o cabelo e eu quero implorar pra você não cortar. Porque esses seus cachos acabam comigo. O cheiro do seu cabelo. A maneira descabelada que você usa pra parecer arrumado. E eu amo a sua cara de argentino e que você odeia os argentinos. E eu amo como a sua calça nova cai bem em você e como você fica elegante de chinelo. E eu quero te pedir pra deixar tudo como está e não cortar meus cachos prediletos de todos os cachos. Você me salvou. Eu não aguentava mais pensar nos mesmos caras que eram sempre os mesmos caras.Você é novinho em folha e eu sou louco por você. Mas tudo isso eu não te conto pra você não achar que eu sou louco. Chega. Dessa vez vou fazer tudo certo.

Já é a sexta vez que você vem à minha casa e até agora nada. Não transei com você. Apesar de pirar na sua barriga e na sua nuca. E de querer eternizar o seu cabelo e o seu nariz feio. E de achar que o seu cheiro é o cheiro de uma nova vida que eu estava precisando tanto. E de eu te adorar principalmente porque eu já nem sabia mais como era adorar alguém novinho em folha. Não, não transei com você. Chega de transar sonhando em andar de mãos dadas. Agora vou andar de mãos dadas pra ver se vale a pena transar. Porque dessa vez vou fazer tudo direito. Chega.

E você nem sonha que eu sou meio bipolar. Acredito no amor pra sempre. Acredito em alma gêmea. Você nem sonha com essas coisas porque só conversamos coisas leves e engraçadas.

Chega de ser o louquinho intenso. Maior legal transar e se divertir com o louquinho intenso, mas quem aguenta o tranco de me assumir, de me amar?

Ninguém. Chega.

E eu corro no espelho de novo e repito cem vezes que não gosto de você. Não gosto de você. Não gosto de você. Porque se eu gostar de você, eu sei que você vai embora. E eu simplesmente não aguento mais ninguém indo embora. Porque nessa vida maluca só se dá bem quem ignora completamente a brevidade da vida e brinca de não estar nem aí para o amor. E eu preciso me dar bem e por isso ignoro minha urgência pelo amor. Porque, se você sentir urgência em mim, vai é correr urgente daqui. Chega.

E você implora pra gente finalmente transar. Já é a sexta vez que você vem aqui. E eu quero muito. Muito. Porque você tem a voz mansinha e só fala coisa inteligente. E você é cínico sem ser maldoso. Mas não, não. Estou morrendo de vontade de ser eu, mas ser eu só tem me feito perder e perder. E eu quero ganhar. Só dessa vez. Chega.

E eu quero me dar de bandeja pra você. E dentro de mim uma voz diz: pira, enlouquece. Vive um dia e já está bom. Depois eu demoro semanas pra me levantar, mas pelo menos fui intenso e vivi um dia. Mas não aguento mais nada disso. Quero viver uma história. Por isso dessa vez não vou transar e nem gostar de você. Tchau. Peço pra você ir embora. E você jura que eu não estou nem aí pra você. Melhor assim. Dessa vez quero fazer tudo certo. Chega de fazer tudo errado. E eu te espio da janela, indo embora. E quero berrar o quanto gosto de você.

E te pedir em namoro. E rasgar sua roupa. E te comer. E dormir enroscado no seu cabelo. E te mandar flores amanhã. E mais uma vez agir como um homem. Mas eu cansei de ser homem. Chega de usar o homem que eu sou pra ferrar comigo. Eu sou menino. E meninos só transam depois do sexto encontro. Ou depois que o cara fala que gosta deles. Dessa vez vai ser assim. Chega.

E se você não se apaixonar por mim mesmo com todo esse teatro de moço banal que eu estou fazendo, vai ser a prova de que eu precisava pra saber que você realmente vale a pena.

Eu...

Por muito tempo eu fiz o que eu quis. E fazer o que se quer é um privilégio. Você tem que ir contra muitas opiniões, mas afinal, é o que você quer. Por muito tempo eu fiz o que eu quis e não o que precisava fazer. E desta vez, mesmo doendo e me machucando, mesmo tendo que voltar um passo atrás, eu vou fazer o que preciso, pensar um pouco mais em mim. E infelizmente, menos em nós dois.

Viva...


A morte afeta, não importa se ela vem logo ou pondera a vir. Quando ela chega, afeta. Que seja qualquer ser vivo…

Lembro de uma vez que eu fiquei no quintal da minha casa brincando com formigas e aqueles bichinhos tatu bola, que se encolhem e viram bolinha, sabe? Fiquei toda uma tarde e me diverti demais, fui dormir pensando nos dois, iguaizinhos àqueles do filme Vida de Inseto. Quando acordei, fui pra aula e voltei no muro onde os tinha deixado, provavelmente eu não ia achá-los e aquele seria um dia que passou e deixou lembranças, mas eles estavam lá, do mesmo modo. Só que imóveis. Eu não lembro que idade eu tinha, mas lembro que foi a primeira experiência com a morte afetando algo que havia me deixado feliz. E foi rápido, um dia eles estavam lá, outro dia não. Não sei ao certo o que aconteceu, talvez foi eu mesmo brincando e cansando eles, mas sei lá, a morte afeta e ela sempre vem. Isso foi me passado pela primeira vez. Dá para se criar as melhores lembranças antes que ela chegue ou ter medo da sua presença, mas para que a segunda opção? Imagine quantos sorrisos se pode arrancar de uma única lembrança de algo vivo, algo que tem seu destino e suas necessidades igual a nós. Imagine quanto se pode aproveitar sem ter medo? Quanto se pode aprender, criar, experimentar e principalmente… Viver. Aproveite, viva. Aproveite vivendo.

quarta-feira

Sempre

Sempre. Certas coisas sempre serão para sempre. Sempre terão a vivência ocorrida que as tornou indestrutíveis no tempo e as fizeram eternas. E aquele sempre será o morrinho ao lado do barzinho de bebidas onde te vi pela primeira vez. E aquela sempre será a rodoviária onde você foi me buscar sem sinal de celular pra saber se eu realmente estava chegando. Aqueles sempre serão os ingredientes da nossa primeira janta. Os quadros sempre vingarão minha estante. A chuva sempre fará parte da nossa história de sacrifícios. O azul sempre será a cor do nosso dia de namoro. Aquela sempre será a melhor e mais cara sobremesa de nossas vidas. Aquele sempre será o tempero secreto do molho. Você sempre me ganhará naquele jogo de luta, não importa o quanto eu treine. Aquela sempre será a pipoca que deve ser comprada. Aquele sempre será o lugar onde te disse tchau e você foi pra mais perto do céu e longe de mim. Aquele sempre será o desenho favorito com um valor especial por ter trazido tantas risadas e piadas. Aqueles sempre serão os nomes dos nossos filhos. Aquelas duas palavras sempre nos trarão força e te farão lembrar de mim. Aquele sempre será o lugar onde gostaria de te pedir em casamento. Suas mãos sempre serão minha parte favorita do seu corpo. Você sempre será meu primeiro e verdadeiro amor, o mais sincero. Este sempre será o sentimento que sinto por você e estará dentro de mim: Amor. Meus olhos sempre estarão em chamas.

domingo

Cansei...



Cansei das promessas de compra e das devoluções gastas do meu corpo. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba mesmo. Então tá aqui ó: peitinhos, coxas, barriga e o buraco que você tanto quer. Leve de uma vez e me engane por alguns dias. Você é igual a todos os outros e todos os outros são: lixo. O amor não existe, e, se existe, não dura pra sempre. E, se não dura pra sempre, não é amor. E nada dura pra sempre. E então o amor não existe. (...) A verdade é que mais cedo ou mais tarde você será traído, porque todo mundo tem medo de viver a entrega. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres. A verdade é que todo esse perfume é vergonha de nossa essência, todas essas marcas são vergonha do nosso corpo, todo esse charme despretensioso é vergonha de nossas fraquezas. A verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio. A verdade é que não dá para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e não saindo do mesmo lugar.

terça-feira

Foda-se esse amor. E foda-se você.

Sempre achei que esse amor era coisa de quem não tinha nada melhor para fazer. Eu só o sentia porque estava infeliz naquela vida pacata. Só por isso. Resolvi então agitar a vida pacata. E comecei a sair mais de casa, enxergar as pessoas ao meu redor, mais viagens, mais baladas. Amor é coisa de gente pacata e agora que eu tinha uma vida agitada, poderia, finalmente, mandar esse amor embora. Tchau, coisinha besta.
Nada feito. Só piorou. Acordava e ia dormir com ele engasgado aqui. Ficava inconformado. Mas aí concluí: amor é coisa de quem tem tempo pra pensar nele. Claro, mesmo com a semana agitada entre faculdade e trabalho, eu fico em casa o fim de semana todo, alegando cansaço, no silêncio das minhas coisas, claro que acabo pensando besteira. Aquele papo de mente desocupada casa do diabo, sabe? Amor do diabo. Fui procurar Jesus.
Depois de dez passes e de ler todo o Evangelho Espírita, achei que ficaria tudo bem. Ficou nada. Eu só parei de sonhar que botava fogo no apartamento do ser amado ou que arrancava os olhos de todos do mundo. Parei, talvez, de odiar o amor. Mas o amor, na verdade, ficou lá. Duro que nem pedra. Daqueles que não vão embora nem com reza brava.
Amor adolescente, pensei. Com certeza, se eu virar homem, esse amor bobinho passa. Amor de menino bobo. Tratei, então, de virar homem. Quem sabe mudando o visual, esse amor não se mudava de mim? Nada feito. Cabelo novo, roupas novas, sapatos novos, novas contas pra pagar. E o mesmo coração idiota. O mesmo amor de sempre. Coisa chata, não?
Ah, que que é isso! Amor deve passar com um novo amor, não? Olha lá aquele menino bonito te olhando, o outro que escreve bonito, o outro que te faz rir um monte, tem também aquele ali, com mão firme. Nada. Nenhum deles foi capaz de me salvar, de substituir minhas células cansadas em sentir sempre a mesma coisa. Nenhum foi capaz, nem por um segundo, de me levar para passear em outros tormentos. Ou outras alegrias. Qualquer outra coisa que seja.
Aí veio a idéia brilhante. Será que se eu mergulhasse de cabeça na estupidez desse amor, não me curava? Será que se eu, por um minuto apenas, parasse de sentir tudo isso de dentro da grandiosidade que eu inventei para tudo isso e enxergasse de perto como tudo é tosco e pequeno, eu não me curava? Só piorou. De frente para ele e suas constatações tão absurdas a respeito de tudo, só consigo sentir ainda mais amor. E quanto mais e maiores motivos para não sentir, ele e a vida me dão... Adivinhem? Sim, o amor cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento.
Mas esse amor, ah, esse amor é coisa de quem não ama a própria vida. Se um dia, um dia eu pudesse realmente ser um Administrador. Ou até, nossa, se eu pudesse trabalhar numa grande corporação sabe? Esse amor iria embora, claro. Nada feito. Estou aqui graças a minha maior qualidade: a fé. Sim, isso só não funciona pro amor, mas pra todo resto na minha vida acreditar sempre funcionou. Tudo certo com a minha vida. Ou quase tudo certo. Ainda sinto esse amor ridículo. Essa coisa infernal que me vence todos os dias, todos os minutos. Quantos bons contatos me admiram e me elogiam. Ainda bem que alguém além de mim acredita em mim. É tanta coisa boa acontecendo, tanta gente boa se aproximando que tá na hora de acordar. Enxergar. Receber.

Taí. Tá bom. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você.

domingo

Ódio...



 Odeio sentir pena do que já não me faz bem. Odeio sentir dó do que eu amo. Odeio odiar… ‘Onde existe ódio existe amor’ me disse certa vez uma caixa de supermercado numa conversa rápida que tivemos quando eu estava bêbado e resolvi desabafar. Ela tinha razão, e tem até hoje. Sabe, as pessoas que mais nos marcam e dão conselhos que mudam as nossas vidas são aquelas de que menos nos lembramos. Talvez por caus da bebida que eu não lembre muito bem, mas é detalhe… Eu sei que esse meu ódio cresce e desaparece, volta com mais força e some de novo. Só sei que existe ódio, e se ódio é amor, eu odeio amar você.