Desculpem o trocadilho infame, mas a vida é feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possíveis...

sábado

Frio... Está frio...


Tá frio.

Falta o pezinho esfregando no outro e a gente bem de pertinho com nariz colado rindo por nada, só por estarmos felizes.
Falta eu e você debaixo das cobertas, tomando um chá ou chocolate quente, vendo um filme qualquer, porque nem vamos acabar de assistir.
Acordaremos com o menu tocando a mesma musiquinha pela centésima vez e percebendo que dormimos na metade, abraçados e felizes.
Falta nos enchermos de cachecol, lã, gorro e sairmos na rua pra só depois perceber que não temos luvas e as mãos estão congelando.
É então que a gente anda coordenando o passo pra poder ficar se esquentando de mãos dadas e felizes.
Percebeu que todos os momentos são felizes?
Todos os momentos me imaginando com você acabam assim… Felizes.
Tá frio.
Falta você. Tá frio.
Tenho saudade. Tá frio, quero te cuidar dele, e de todos os outros frios que virão.

quarta-feira

Metade...


porque, há muito, eu erro a mão. a dose. esqueço a receita do equilíbrio. o quanto uso das partes que brigam dentro de mim. há muito, eu me confundo. porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. segurando forte. espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso. metade prefere brincar na beira da praia. no raso. enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. sobre o possível afogamento. porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. me confundo com as metades que brigam dentro de mim. porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. seta torta, avisando sobre o perigo. metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. outra, sempre calada, tolera a banalidade. engole a ignorância. convive com a mediocridade. há muito, eu erro a mão. a dose. me confundo com o que devo usar. porque metade briga. explode. dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. no quarto fechado. no tudo escuro. metade berra. outra sussurra. tenho uma parte que acredita em finais felizes. em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. tenho uma metade que mente, trai, engana. outra que só conhece a verdade. uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. outra que sobrevive sozinha. metade auto-suficiente. mas, há muito, eu erro a mão. a dose. esqueço a receita do equilíbrio. me perco. há dias em que uso a metade que não poderia. dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria. porque elas brigam dentro de mim, as metades. há algumas mais fortes. outras ferozes. há partes quase indomáveis. metades que me fazem sofrer nessa luta diária. Não deixar que uma mate a outra.

quinta-feira

Será?

Existe alguém socorrer o que não tenho?

Existe pedir ajuda pra simplesmente fazer de conta que nada disso acontece? Existe implorar pra parecer que não tô nem aí? Existe emprestar pernas e peitos para correr com as minhas de forma a não dever nada? Existe ir embora da minha própria cama? Existe sair do meu próprio peito? Existe tirar você daqui de dentro, vomitar você, matar você? E tudo isso só porque, vai ver, esse medo todo é justamente que você saia? Que é isso? Como posso precisar tanto no mesmo instante em que não suporto não ser só meu? Um milhão de coisas que cabiam tanto que ele não suportava, mas a sensação de que não se podia nada.